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Dr. Leandro Lunardini Cardoso 01 Fevereiro, 2023

Seleção pelo fenótipo ou pelas DEPs?

O desempenho de um animal depende basicamente de dois fatores: da genética e do ambiente. A genética é a composição dos genes que um animal possui no seu genoma (DNA). O ambiente pode ser determinado pelos efeitos do meio ao qual o animal é criado, entre eles: a dieta, o manejo, os desafios sanitários, e outros efeitos conhecidos.

Considerando-se esses os dois principais fatores que afetam o desempenho dos animais, existem duas formas de se melhorar a produtividade, melhorando-se a qualidade genética por meio do aumento da frequência dos genes desejáveis na população, e aprimorando-se o ambiente no qual os animais são criados, de forma que, tanto a genética como o ambiente podem ser trabalhados de forma conjunta.

Células só são geradas por meio de outras células, e a única maneira de se obter mais células é através da divisão daquelas já existentes. Este ciclo de duplicação e divisão é conhecido como ciclo celular e tem a tarefa de transferir a sua informação genética para a próxima geração. A função básica do ciclo celular é duplicar exatamente todo o conteúdo de DNA nos cromossomos e com precisão se duplicar dentro de duas células-filhas geneticamente idênticas, processo chamado de mitose nas células somáticas e meiose nos gametas (espermatozoides e óvulos).

As células dos animais podem também desvincular-se completamente do crescimento e da divisão celular, apresentando crescimento sem divisão e divisão sem crescimento. Servindo como exemplo as células musculares e daí demonstrando claramente a ação do efeito ambiental. No caso de selecionarem-se animais apenas pela sua medida absoluta (fenótipo) podemos estar considerando apenas o efeito de hipertrofia celular e confundindo o que é efeito genético com o que é efeito de ambiente.

Quando utilizamos a seleção pelo valor genético estamos considerando o efeito aditivo dos genes, e isso é o que será passado para a próxima geração, ou seja, a fração do desempenho da característica que é devida ao componente genético, pois a nutrição, manejo, vacinas, programas sanitários não são herdáveis.

Do ponto de vista da seleção pelo fenótipo, ou seja, pelas medidas absolutas do desempenho de um animal como o peso à desmama, peso ao sobreano, ganhos de peso e ou avaliações de carcaça por ultrassonografia são considerados apenas a medida realizada no animal.

A medida absoluta nos demostra o valor da medida em si, mas não nos diz em termos genéticos qual a diferença do animal em relação aos seus contemporâneos e o seu grupo de manejo, ou mesmo sobre a população e rebanho. Dessa forma o que é transmitido para a próxima geração se torna uma incógnita pois os animais podem ter tanto uma combinação de genes favoráveis como desfavoráveis e a maneira correta de se identificar esse fenômeno é através do cálculo da estimativa do valor genético (DEP = metade do valor genético) de onde derivam as Diferenças Esperadas na Progênie as DEPs.

As DEPs nos dão um valor médio esperado dos filhos de um determinado touro ou matriz para uma determinada característica ou conjunto delas -Índices de Seleção-, e são elas que dão a direção que se quer para o rebanho ou população, permitindo-se quantificar o ganho genético por geração.

Quando utilizamos apenas o fenótipo para seleção o componente genético fica oculto e a escolha nem sempre é adequada. Ao se identificar os animais melhoradores por meio de seu valor genético são considerados efeitos como grupo de contemporâneos e de manejo, idade da mãe, época de nascimento, e principalmente o relacionamento genético entre os animais da população (Pedigree). O pedigree pode chegar a centenas de milhares de animais a milhões de animais na população dependendo do Programa de Melhoramento Genético.

Outro fator importante é a conectabilidade genética entre os animais em várias fazendas ou rebanhos que possibilita a avaliar o desempenho das progênies em diferentes condições ambientais como as citadas anteriormente.

Ainda em relação às DEPs além delas nos indicarem o que se espera no desempenho dos filhos de um determinado touro, permitem se calcular as acurácias das DEP, valor que nos demonstra o grau de assertividade da DEP em relação àquela característica, ou seja, quanto maior o valor da acurácia maior é o grau de confiança que se pode dar no valor da DEP.

Uma DEP é publicada na mesma escala da medida realizada, assim, uma DEP de +40 Kg ou de -24 Kg nos diz o quanto em quilos em média a mais ou a menos se espera de desempenho no Ganho de Peso do Nascimento ao Sobreano dos filhos de um determinado touro. Da mesma forma, um animal com DEP +1,06 mm ou de -0,67 mm vai nos dizer o quanto se espera que os filhos de um touro vão depositar a mais ou a menos de gordura de acabamento. Para gordura intramuscular (marmoreio) existem touros com DEps (Promebo/Angus) de -0,53 % a +1,08%, uma escolha baseada nos valores das DEPs pode nos levar a direção de seleção correta.

A escolha de um reprodutor sem considerar a DEP pode ser equivocada levando ao criador a opção de compra por um reprodutor num sentido indesejado. Como exemplo, a DEP do touro pode ser extremamente negativa para uma determinada característica, ou extremamente positiva para outra como peso ao nascimento, o que no caso para uso em novilhas é indesejada.

Outra ferramenta que o cálculo das DEPs nos permite são os Índices de Seleção. Os índices possibilitam que um conjunto de características sejam selecionadas em conjunto, e dessa forma, permitem a seleção para várias características ao mesmo tempo.

Portanto, a seleção pelo fenótipo (medidas) é uma escolha baseada em uma incógnita, podendo em certos casos ser feita adequadamente, mas em outros casos provocar uma escolha inadequada aumentando a frequência de genes desfavoráveis no rebanho. Ao se considerar ferramentas de seleção como as DEPs o grau de assertividade aumenta pois ela nos explica o quanto podemos esperar no desempenho dos filhos de um determinado touro em valores quantificáveis juntamente com o seu grau de confiança -acurácia- no qual podemos creditar àquela DEP.

Desse modo, o componente sorte ou azar na escolha do touro não faz mais parte do problema, a problema agora é somente descobrir qual o rumo tomar no melhoramento do rebanho.

Escrito por, Dr. Leandro Lunardini Cardoso, Zootecnista pela PUCRS, Mestrado e Doutorado em Zootecnia pela UFRGS, Pós doutorado em Bioinformática pela Embrapa Pecuária Sul e UFPEL. Proprietário da Meat Science Consultoria, Sócio fundador da BioData Ciência de Dados

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